Janilton Gabriel de Souza.
Psicólogo, psicanalista, escritor, pesquisador e professor universitário no curso de psicologia e pós-graduação do Grupo Unis. Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Membro do Instituto Internacional de Psicanálise (IIP) e, neste, participa do Topolab (Laboratório de Pesquisas em Topologia e Psicanálise). É colaborador da comissão científica do Fórum Mineiro de Psicanálise, desde de 2020. Já coordenou e organizou dossiês de Psicanálise para revistas científicas como Humanidade & Inovação. Criou e apresenta, com Mônica Martins de Godoy Fonseca, o podcast Psicanálise Conectada. Mantém o site www.janiltonpsicologo.com, onde publica sobre Psicanálise.
Se você tem um perfil profissional, pode responder: “para divulgar o que se faz”. Eu questionaria então, para que está tão obcecado (a) para mostrar atividades pessoais? Talvez você replicasse: “orientam para agradar os algoritmos e gerar mais engajamento”. Todavia essa conversa poderia ser resumida em uma resposta – que vale para perfis profissionais ou não: “Porque todos estão lá”. Porém será que você gostaria de fazer tudo isso se seus amigos ou conhecidos não estivessem no Instagram?
Foi essa pergunta, que o professor de economia da Universidade de Chicago, Leonardo Bursztyn e outros pesquisadores fizeram no experimento científico, publicado em outubro de 2023 “When Product Markets Become Collective Traps: The Case of Social Media”. Nele, analisam as razões por que as pessoas permanecem nas redes sociais, especialmente, no Instagram e no TikTok. Para encontrarem as respostas para suas indagações, construíram uma estrutura de pesquisa que permitisse ler as entrelinhas e as razões de alguém estar nestas redes sociais.
O estudo foi dividido em três etapas: 1) O quanto os universitários estariam dispostos a receber para desativarem suas contas por quatro semanas? 2) Quantos estariam propensos a receber para fazerem o mesmo, sabendo que seus colegas estariam fora das plataformas? 3) Mediram as preferências dos usuários sobre a desativação das contas, incluindo as próprias.
Na primeira etapa, a pessoas toparam desativar as suas contas do Instagram, para tanto receberem 59 dólares. Já, quando sabiam que seus colegas também o fariam, aceitaram receber menos. Os participantes que não têm contas no Instagram estavam dispostos a pagar 69 dólares para que os outros desativassem suas contas. Esses pesquisadores concluíram que o medo de ser excluído do que está acontecendo com seus amigos faz com que as pessoas utilizem a plataforma.
Para falar sobre o Instagram é importante que o leitor saiba o que está por trás de sua estrutura. O Instagram foi projetado para capturar a atenção do usuário, isso foi feito com conhecimentos do campo Psi. Sei disso por meio de uma renomada psiquiatra, próxima a minha rede de colegas, que auxiliou a equipe de Mark Zuckerberg a transformar a rede em um sistema altamente viciante.
Dentre os efeitos do uso, destaca-se a perda da noção do tempo. Para tanto feeds e Stories, que não têm fim, cumprem este propósito. Associado a isso, o algoritmo captura o que você lê, escreve, quanto tempo fica em uma postagem e, até o que diz, mesmo quando está fora do aplicativo. Há trabalhos que associam a dificuldade de aprendizagem de adolescentes, quando expostos à rede, alguns, inclusive, correlacionam uma perda cognitiva devido ao uso prolongado do Instagram.
Como a Psicanálise pode ajudar nesta leitura? O psicanalista francês Jacques Lacan refletiu sobre o tempo como sendo lógico: o primeiro seria o tempo de ver, o segundo o de compreender e, por fim, o de concluir. Um ponto que se percebe em nossos consultórios, atualmente, e na própria sociedade, é um achatamento do tempo de compreender. Assim, impulsionado pelas redes sociais que não dão tempo para o sujeito elaborar o que vê ou lê, as pessoas têm funcionado em uma lógica de ver e concluir, ou como postula a psicologia comportamental, “estímulo” e “resposta”. A quase ausência do “entre”, em que mora a elaboração e o trabalho a serem feitos pelo sujeito, tem como efeito o funcionamento compulsivo e com ele o estreitamento reflexivo, além do surgimento de certezas.
Em tempos de Inteligências Artificiais, nunca foi tão importante a Psicanálise, que trabalha com o “entre”, ou seja, com as questões, que nos permitem lembrar a complexidade da própria vida. A ilusão de reduzir os elementos que incomodam é algo almejado pelas pessoas, todavia, quanto mais se caminha nesta direção, maior será o empobrecimento psíquico e a diminuição de recursos subjetivos para lidar com as experiências da vida, o que inclui as que fogem ao registro da palavra, que causam mal-estar.
Por isso, estou propondo que a Psicanálise é a Inteligência das Entrelinhas (IE), irei conversar sobre essa proposta, no próximo dia 06 de junho, no Congresso Internacional do Unis, no lançamento do Podcast Psicanálise Conectada. Nesse evento, Mônica Godoy e eu falaremos sobre os temas da vida e da vida da Psicanálise. Ao invés de se sentir excluído pela experiência do que todos estão fazendo no Instagram, quem sabe você troque um pouco o feed infinito pela vivência finita, presencial, corpo a corpo conosco? Pode ser um bom encontro, este tem a força de causar eco em nós e nos fazer caminhar. Até lá!
Texto, originalmente, publicado em maio de 2024 no Blogdomadeira.





